Saindo do Bodensee, já no lado suíço da fronteira, pedalei até Zurique, antes de atravessar o país por completo, de norte a sul, até a fronteira com a Itália. Saí com um mapa das ciclovias nacionais nas mãos, o que me possibilitou traçar uma rota que contemplava alguns dos lagos mais bonitos da Suíça e a travessia dos alpes pelo o de San Bernardino. Eu sabia que atravessar os alpes não seria tarefa fácil, ainda mais para um brasileiro que pedalava por estas bandas pela primeira vez, e sozinho. Para minha sorte a mania de perfeição dos suíços é maior do que eu imaginava, o que facilitou muito minha jornada.

Placas para cicloturismo, mountain bike, patinação e pedestrianismo (amarelas)
O mapa que eu possuía era uma versão impressa das informações contidas na página Schweizmobil (Mobilidade na Suíça), que indica os principais caminhos para bicicletas de eio (foi o que eu segui), mountain bikes, patins (pasmem!), pedestrianismo (sim!) e canoagem (sem comentários) em toda a Suíça. As rotas são separadas por cores e números, conforme o meio de locomoção e a orientação que o usuário deseja seguir. Durante todo o caminho as placas indicam a direção, no caso das bicicletas também apontam as distâncias, e para os pedestres, o tempo de deslocamento até o destino. É tudo muito fácil e organizado. Muitos dos caminhos são compartilhados, mas às vezes as rotas para pedestres são exclusivas, por exemplo, e as bicicletas não podem ar por eles. Às vezes as bicicletas devem seguir pelas ruas, junto com os automóveis, mas nestes casos não há qualquer ameaça a segurança dos ciclistas. Os motoristas suíços sabem dividir o espaço.

Campanha de incentivo ao uso do capacete, embora ele não seja obrigatório
Na cidade de Zurique, a maior e uma das mais importantes do país, algumas faixas de ônibus também podem ser utilizadas pelos ciclistas. Nesses casos, a bicicleta tem prioridade, e os ônibus tem que esperar um momento seguro ou a saída do ciclista para fazer a ultraagem, e eles esperam! Não foi a primeira vez que vi isso aqui na Europa, mas agora pude aproveitar melhor, já que estava “mais escolado”. O transporte público nesta cidade, aliás, não tem nenhum segredo. Os mapas dispostos nos pontos de ônibus, estações de trem e tram são extremamente claros. Ali é possível visualizar facilmente o ponto onde você se encontra e seu destino, além das linhas e modais necessários para chegar lá e quais am por ali. Em geral com a integração de um tram e um ônibus você pode ar qualquer parte da cidade em questão de minutos. Se você estiver bem localizado, apenas um veículo é o suficiente. Você pode comprar os bilhetes nos pontos de ônibus ou nas estações, por um sistema automatizado, utilizando inclusive o cartão. Painéis eletrônicos mostram os veículos que se aproximam e o tempo que irão demorar para chegar.

no interior de um tram em Zurich, indicando a rota e tempo de deslocamento
As ciclovias de Zurique também são muito bem sinalizadas. A cidade é plana e pedalar nela é delicioso. Por ser dividida por um grande lago, a sensação é de estar em uma cidade litorânea, com clima muito agradável e segurança total. Quando se aproximam das faixas de pedestres as ciclo-faixas pintadas na rua diminuem de largura, forçando o ciclista a diminuir de velocidade e prestar mais atenção. Nas rotatórias o desenho da ciclo-faixa desaparece e o ciclista a a ocupar o centro da via, com preferência para a conversão. Nem é preciso dizer que existem paraciclos por toda parte, senhores e senhoras de idade pedalando, bem como executivos de bancos internacionais e crianças. Os semáforos seguem uma lógica curiosa, pelo menos para os brasileiros. Assim como nas outras cidades européias, eles possuem três cores: vermelho, amarelo e verde. Sim, o amarelo também é utilizado! Ao contrário de São Paulo, por exemplo, quando quase não se vê a cor do amarelo dos semáforos, por aqui ele aparece, e bem, antes do sinal ar do verde para o vermelho e também, principalmente, do vermelho para o verde!

e para bagagem no interior do ônibus em Zurique
De Zurique peguei a rota de bicicletas número nove (Rota dos Lagos), depois a número dois (Rota do Reno), ei para a número seis (Rota dos Grisões) e terminei na número três (Rota Norte-Sul). Dessa forma foi possível chegar até a fronteira com a Itália por caminhos destinados à bicicleta, além de curtir as belíssimas paisagens e o clima dos lagos e cruzar os alpes por uma das estradas mais belas do mundo. O que eu pensei que seria um grande sofrimento foi extremamente prazeroso, já que além de bela, a estrada de San Bernardino é perfeita para a bicicleta. Com pouca inclinação mas cheia de curvas, a via possibilita que com muita persistência o ciclista cruze os alpes, uma experiência única. Por ali vi muitas motos, alguns carros conversíveis e duas ou três outras bicicletas. Por ser uma via de velocidade reduzida, a maioria dos automóveis prefere pegar a auto-estrada, uma alternativa que corta a montanha por meio de diversos túneis.

Ponto de ônibus com sistema automatizado de venda e emissão de bilhetes
É certo que no começo da subida eu errei o caminho e fui parar na pista rápida exclusiva para carros. ei por um túnel em que os automóveis desenvolviam velocidade até 100km/h. Não foi nada agradável e ao sair dali percebi o grave erro que havia cometido. Um jovem em uma motocicleta me ajudou a encontrar a rota correta, mas sem evitar que eu levasse uma tremenda bronca de dois oficiais da polícia suíça. Acabei me livrando da multa, por ser estrangeiro e não conhecer muito bem a sinalização do país, mas posso garantir que foi uma experiência um tanto quanto perigosa que eu não recomendo para ninguém! Se pedalar pelas rotas de bicicleta é fácil e atraente, quando você por acidente cai no lugar errado, pode ser fatal.

As ciclo faixas às vezes ocupam o meio da via
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