Onde foi que erramos ao criar cidades
com transportes tão confusos e ruins como hoje estão?
A resposta para esta pergunta é tão confusa quanto o embarque na Sé ou Central do Brasil (metrôs de SP e RJ respectivamente) na hora do pico. O brasileiro sempre teve uma cultura de pouco se importar com a política, de reclamar muito, cobrar pouco e acreditar muito em projetos utópicos. Alguém se lembra do monotrilho que havia sido projetado para andar nas ruas do bairro do Jardim Botânico, no RJ? Pois é. Não saiu do papel. E nem era para sair, claro.
Mas infelizmente, no RJ saiu do papel aquela estação monstruosa chamada Cidade Nova, em frente à Estação Estácio (linha 2 e 1, respectivamente) matando o desejo do carioca de que a Linha 2 de lá funcionasse como foi realmente planejada: com composições de 8 carros e indo até o centro da cidade com uma baldeação na Estação Estácio levando e trazendo o povo trabalhador do subúrbio com rapidez. Hoje, quem anda de Metrô no RJ espera até 6 minutos de intervalo no horário do pico. Este intervalo é impensável na realidade de SP, por exemplo em qualquer momento do dia, imagina no pico. E de outras grandes metrópoles fora do Brasil também.
Entenda bem: transporte de massa nas horas do rush ou pico em todo o mundo é igual: não adianta falar que SP, RJ, BH ou POA tem metrôs e trens lotados e “Londres não é assim”. Claro que é.
Londres tem um metrô com muitos km, é uma cidade muito menor (aliás, um país muito menor) que o estado de SP e mesmo assim, o transporte de lá é cheio. Pergunte aos londrinos como foi caótico (ainda mais!) durante as Olimpíadas de 2012. E olha, o “Tube” como o “Underground” é chamado (ok, Metrô certo?) é um dos mais antigos do mundo.
Faça uma busca no Youtube e veja como os Metrôs de Paris, Nova York e até Tóquio podem ser tão cheios como os nossos. Temos que perder este complexo de “vira-lata” onde acreditamos que tudo no Brasil é pior do que nos outros países.
Mas nós erramos feio em várias coisas: endeusar o transporte individual foi um dos grandes erros. O seu desejo de status de ter um carro cai por terra quando você vê o engarrafamento imenso que você vai se sujeitar todo dia, para ir e vir do trabalho. “Ah, mas eu vou sentado, no conforto meu carro e não apertado dentro do Metrô” você vai me retrucar. Pois é. Até vai. Mas vai poluir ainda mais o ar da sua cidade além de ter um rombo no seu bolso no final do mês com a manutenção do seu carro.
Ou você acha que o “anda-e-para” do engarrafamento faz bem para o seu carro? Faz tão mal para o seu carro quanto faz para a sua paciência. Esta ideia de que ter carro é ser rico ou que ter carro é melhor que o transporte público foi uma ideia de marketing que funcionou muito bem nos anos 70 até os anos 90. E depois, claro, a ficha caiu: como colocar tantos carros para circularem dentro de uma cidade? Foi inventando o rodízio de placas. Mas brasileiro gosta de leis? Não. E as burla sem dó. E ainda reclama de quem faz. Hipocrisia pura.
E enquanto o endeusamento da indústria automobilística cresceu, os governos resolveram “esquecer” de melhorar o dia-a-dia de quem não tem condições de comprar um carro. Mesmo que fosse aquele Chevette ano 79. E criamos um monstro urbano bem parecido com o Godzila: uma cidade com muitos carros, com pouca fiscalização das leis vigentes e pior: com um transporte público sem qualidade. Aí, claro, você vai perguntar como naquela música da Legião Urbana: “a culpa é de quem”? A culpa é nossa. Nossa, por que acreditamos nas promessas da indústria automobilística nos deixando corromper pelo consumismo e pelo status e principalmente nossa por que votamos e continuamos a votar em candidatos que deveriam ter nos representado e melhorado a nossa vida.
