O Metrô do Recife, um dos pilares do transporte público na região metropolitana, encontra-se em estado crítico, à beira de um colapso operacional que ameaça não apenas a eficiência do serviço, mas também a segurança dos ageiros.
Para evitar essa catástrofe e manter o sistema como um serviço público, seria necessário um investimento inicial de R$ 3,5 bilhões para sua reestruturação completa, além de um custeio anual de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões. Essa é a estimativa unânime da gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife e dos próprios metroviários, que defendem a manutenção do metrô sob controle estatal.
A superintendente da CBTU-Recife, Marcela Campos, e o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro), Luiz Soares, alertaram para a urgência da situação durante debate realizado na Rádio Jornal (estação de rádio local) nesta quinta-feira (29), no qual foi discutido o futuro do metrô diante do avanço do processo de concessão à iniciativa privada.
Os dois alertaram que os problemas se espalham por toda a operação: via permanente, rede aérea, edificações e um custeio que há anos se mostra insuficiente. A falta de recursos é tão severa que a paralisação parcial das operações, como já acontece aos domingos desde setembro de 2024 para a realização de melhorias mínimas na via, é uma possibilidade real.
Dilema: privatização x investimento
Enquanto os debates sobre a concessão do metrô à iniciativa privada seguem sem consenso entre os governos federal e estadual, o sistema segue em deterioração. Marcela Campos, com quase duas décadas de experiência na CBTU, ressaltou que o setor metroferroviário exige tempo para a aquisição de equipamentos – anos, no caso da substituição dos antigos trens Santa Matilde, que já estão em risco de não operar mais.
"A situação é muito crítica e preocupante. Independentemente da decisão de conceder a operação à iniciativa privada ou não, precisamos começar a fazer investimentos no sistema", enfatizou. Luiz Soares, do SindMetro, reforçou que "reerguer o metrô é um processo que levará de cinco a sete anos" devido às complexidades da operação. Para os metroviários, a solução a por um metrô público, com tarifa social de R$ 2, focado no atendimento à população que mais precisa.
Os números por trás da manutenção
Os R$ 3,5 bilhões estimados para a reestruturação do sistema seriam aplicados na recuperação de quatro pilares essenciais: via permanente, rede aérea, frota e edificações. Esse valor, inclusive, é similar ao projetado no primeiro estudo de concessão do metrô realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e teria sido reafirmado na revisão deste estudo, que está sendo conduzida com recursos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Além desse investimento inicial, a garantia de rees integrais para o custeio anual, estimado entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões, é fundamental, juntamente com investimentos periódicos para melhorias e expansão da rede. Atualmente, o Metrô do Recife recebe apenas 25% da quantia necessária para operar bem diariamente.
Ambos os gestores e metroviários comparam a necessidade do metrô com o subsídio anual de R$ 300 milhões que o governo de Pernambuco destina ao sistema de ônibus da Região Metropolitana. Eles defendem que o transporte metroviário oferece ganhos sociais e urbanos inestimáveis, como a redução de congestionamentos, a promoção da sustentabilidade e um deslocamento rápido para a população.
Para ler a matéria na íntegra, incluindo uma retrospectiva do processo de privatização do Metrô do Recife, clique aqui.
*O título original da matéria do JC PE é: "Privatização do metrô: quanto custaria ao País manter o Metrô do Recife público e desistir da concessão privada"
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